O motivo pelo qual me incomoda tanto defenderem jornalistas de jogos

monster hunter

“Desenvolvedores de jogos realmente passam anos aprendendo como programar e tentando ser mestre em artes e hahaha bando de perdedores eu não tive que fazer nada disso!” – Jornalista de jogos

https://twitter.com/GameJournoLit/status/920641958200066048

Essa é uma conta paródia no Twitter que está sendo usada para zuar jornalistas de jogos, mas esse tweet em específico demonstra PERFEITAMENTE porque não suporto defenderem jornalistas nessa questão toda.

Desenvolver um jogo é difícil, muito difícil, requer muitos anos de estudo e prática, não importando se você quer ser programador ou artista, e muitos anos de desenvolvimento até para fazer os jogos mais simples do mercado. Não só isso, mas se você for desenvolvedor Indie a vida é uma aposta, você trabalha constantemente com o medo do jogo não bancar os custos de produção do mesmo e você ir a falência. Os criadores de Cuphead tiveram que HIPOTECAR a casa deles para poder concluir o jogo, você já ouviu falar de um jornalista de jogos ter que arriscar sua vida a esse ponto para fazer seu trabalho?

Eu sou uma pessoa que desde criança tenho o sonho de um dia trabalhar com jogos, mas que passou toda sua fase adulta tentando descobrir o que exatamente quer fazer com jogos. Já fiz o curso da Saga em 2010 e 2011 para ser artista de jogo (por quase 2 anos, acabei desistindo no final pois percebi que não era isso q queria, mas eu ENTENDO o processo de criação, pelo menos de jogos 3D), já fiz 3 anos de faculdade de Ciências da Computação e agora estou concluindo a formação em uma faculdade de Engenharia em Desenvolvimento de Jogos Digitais (é, um curso que não tem no Brasil, a grade é 80% Ciências da Computação e 20% outras coisas relacionadas a parte artística dos jogos), sou desde 2010 jogador competitivo de jogos de luta (eSports) sendo possivelmente o jogador de jogos de luta do Brasil que mais participou de eventos fora do país e um dos poucos brasileiros a conseguir sair de sua pool pela winners num jogo principal na EVO, e além disso tudo eu sou, também, blogueiro e YouTuber sobre jogos de luta, já tendo feito todo tipo de artigo sobre o assunto (Reviews, entrevistas com top players/desenvolvedores, notícias sobre anúncios, artigos de curiosidades e sobre partes técnicas/história da comunidade e dos jogos, etc…).

Por causa disso, posso dizer com bastante convicção que de todas essas áreas que citei acima (programador, artista, desenvolvedor, jogador competitivo e jornalista) ser jornalista é DE LONGE a MAIS FÁCIL de todas, e a com mais regalias, pois afinal de contas você tem a oportunidade de jogar jogos antes de todo mundo (e de graça) e é convidado a eventos especiais com figuras extremamente importantes da indústria, além de viajar a trabalho ao redor do mundo com a empresa arcando tudo para você. Não só isso, como também a pressão de ter um retorno financeiro menor por não ter feito um bom trabalho é o menor entre todas as profissões que citei.

https://twitter.com/VisceralGames/status/920437614661865472

Foto: as pessoas responsáveis por franquias AAA de jogos.

Então, se é a mais fácil e com mais regalias, por que que dessas profissões é a que nós, consumidores e fãs de vídeo games, menos exigimos um bom trabalho? Certamente, sempre que um bug surge em um jogo ficamos muito irritados com isso e vamos até as redes sociais reclamar sobre, e se for um jogo AAA vira meme. Certamente, se a arte de um jogo fica feia ou mal feita o jogo vira motivo de deboche e boicote, com alguns chegando ao cúmulo de falar que certos jogos 3D muito bem feitos não prestam por “parecer jogo de celular” (o motivo pelo qual coloquei uma imagem de Marvel Vs. Capcom: Infinite no começo desse artigo é exatamente por ser um jogo alvo de todas essas críticas). Certamente, nesses momentos ninguém pensa na dificuldade que é botar esse jogo na indústria, mas todo mundo (incluindo os tais jornalistas) estão prontos para atacar todas as pedras possíveis e inimagináveis em cima. E tudo bem, você é um consumidor e portanto tem o direito de fazer isso, só que isso TAMBÉM vale para quem consome artigos de jornalistas de vídeo game.

Se esse é um dos trabalhos mais fáceis da indústria e um dos que mais afeta a mesma (pois jornalistas têm uma responsabilidade enorme em cima deles, uma cobertura mal feita pode significar o fracasso injusto de um jogo, eles estão tratando diretamente com vidas, talvez não na mesma proporção de médicos e bombeiros, mas estão), então por que não é esperado a mesma qualidade que se espera de outros trabalhos bem mais difíceis onde o pessoal busca até mesmo pelo em ovo para criticar?

Por isso, se você é jornalista e gosta de criticar as horas de estudo e trabalho dos outros, aprenda a ser criticado também e aprenda a jogar o jogo que irá escrever ou falar sobre.

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